Ótimo, ela esta aqui. Eu tinha entendido que era ela que não viria mais pra cá. Acho que entendi errado. Será? Ou só será o meu sentimento de culpa, dizendo mais uma vez q estou errado? É, sinto culpa sim por ter terminado, por fazer ela sofrer, não sou nenhum sádico. Mas também não sou masoquista, culpa não segura relacionamento.
Bom, culpado ou não, quero cumprir o acordo de não nos cruzarmos por um tempo. Quanto tempo? Quem tiver a resposta liga o cronômetro que eu estou ansioso pelo fim. Afinal, amigos em comum, lugares em comum, encontros são inevitáveis. O jeito é esperar, papear com quem esta neste andar do bar e esperar que no andar de baixo ela termine o assunto e vá. Ela sempre vai cedo.
Melhor sair da janela, ali da varanda onde ela está, eu posso ser visto. “Marcão pula pra esta mesa, esta janela me da vertigem”. Melhor, quinze minutos de papo e nada aconteceu. “Pô Marcão, fica ai. Tá vai lá, Lena me faz companhia, ela está subindo”. Não acredito que ela me largou sozinho. Agora estou aqui, isolado num canto, e nenhum garçom passa por aqui. Pelo menos não gasto, nessa ansiedade vai um café atrás de um suco, atrás de um pão de queijo…
Eu mereço. Me sinto na faixa de Gaza, terra de ninguém, se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Vou analisar a situação, o front: estou no segundo andar, pela janela a alguns metros vejo a varanda onde ela está. Ela está de frente para a escada que sobe para o segundo andar. No topo desta escada o banheiro e em baixo da escada o caixa. A janela é muito alta para pular. Alem de que preciso pagar para sair sem ser perseguido pelos seguranças e chamar a atenção. Diagnóstico: tô fudido.
Ô papinho demorado. O lado positivo é que ela ainda não percebeu que estou aqui, meu propósito de evitar o encontro ainda se mantém. Ou talvez esteja fingindo que não me viu, afinal ela esta muito perto de onde a minha moto esta estacionada. Pilantra, deve estar se deliciando com o meu desespero…Ou talvez esteja tentando ser natural, engolir o nó na garganta e ser simpática com os amigos e não criar um “climão”. Quem sabe…
Nas duas hipóteses continuo eu aqui, na torre de Rapunzel e com uma baita vontade de mijar! Vou pedir uma agua, bebo e mijo no copinho. Mas aqui a agua é de garrafa, vou errar o bico com certeza. Faço no de vidro e jogo pela janela, é isso! Estou sozinho aqui mesmo….Filhos da puta! Isso é hora de sair de casa? Não tem família? Não tem amigos? O que essa casalzinho esta fazendo aqui em cima? O plano do xixi foi por agua a baixo. Agua a baixo? Ai que vontade de mijar!
Tática suicida, é o jeito. Jogo a mochila nas costas, caminho junto a parede, não olho para trás, sem atrair a atenção. Dou uma espiada na situação, entro no banheiro. Ô gloria! Saio, lavar as mãos sem se virar para o lado. Uma olhadela e vejo a mesa, ninguém olha para cima. Mas ao descer as escadas chamarei muita atenção. E agora? Também não da pra ficar aqui a noite toda. Mas também se descer sem olhar para ninguém vai pegar mal, um olá ao menos, são meus amigos afinal. Respira e desce, kamikaze, se ela te ver, amém!
Fui. Primeiro degrau e esta tudo bem. Segundo e alguém de costas esboça se virar, ela ainda não olhou para cá, é agora…Aleluia o celular está tocando! Esta na mochila, enfio a cara dentro dela e a desculpa está dada. Obrigado Senhor!
Agiliza minha filha, são duas águas e um café, quer que eu faça a conta? “Obrigado, estava tudo ótimo” Meu deus, que sorriso amarelo. Acho que minha mão esta tremendo, estou suando. A menina do caixa deve ter achado que eu estou passando mal…E agora pra sair? Bendita porta lateral, saída pela esquerda, dou a volta pelo estacionamento e pego a moto. Está estacionada atrás dela, as pessoas na frente dela irão me ver, não posso cruzar olhares e fazer com que ela se vire para ver quem é. Merda de capacete, é hora de enroscar na trava?! Ninguém me viu, ninguém me viu, eu sou invisível, nem estou aqui…Moto, partida, de primeira, yes! Nem me viu, já sumi na neblina.
Ah cacete. Agora a culpa de não ter cumprimentado ninguém. Alguém percebeu? Ela não me viu mesmo? Eu passei tão perto que era possível sentir seu perfume. Uma coisa é certa, se alguém percebeu amanhã já esqueceu. As pessoas são ligadas demais nos seus umbigos para perceber as sutilezas do mundo ao redor. Quando começamos a namorar não queríamos que se espalhasse a notícia, assim como fofoca de bar. E por mais que nos descuidássemos, ninguém percebia. E se ela me viu, só posso torcer para que não fique magoada. Ou pelo menos, a cena patética de fuga que protagonizei traga para ela um pouco de alegria melancólica. Assim, tal qual quando vemos mímicos vestidos de Carlitos.
2 comentários:
É bem verdade, adoro meu umbigo, talvez meu mundo até gire em torno dele... ou deveria. Fato é, percebo sutilezas..... Entendido pq tudo é tão difícil. Eita, peraí! Vou voltar a olhar pro meu umbigo!
rapá! adorei
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