As descobertas das nossas rodas

Faz algum tempo venho refletindo sobre algumas descobertas recentes que fiz. Descobertas intelectuais e emocionais. A cada descoberta tenho uma incomoda sensação de que eu já sabia. Como aquele sentimento que temos ao corrigir uma prova e ao vermos os erros que cometemos pensamos: “mas eu sabia...”. Uma sensação estranha de que nunca descubro nada novo, apenas revelo algo já conhecido meu e de muitos. Quer me ver puto dentro das calças é contar todo feliz uma sacada genial que tive para alguém, e esse emendar a frase com: “nosso, já pensei nisso, e ainda acho...” e completar minha brilhante descoberta. Pensando nisso fiz um pequeno levantamento de sacadas, insights e pensamentos geniais que tive e escutei nos últimos anos. E descobri estarrecido (não muito, pois no fundo eu já sabia...rs) que todos os avanços do pensamento humano sobre si e sua sociedade, nada mais são do que falar de uma nova maneira do que já é conhecido! Chocante não? É, mas parece que essa sutil diferença, de falar de uma nova maneira do que já conhecemos, é que faz a evolução do conhecimento humano sobre si. Fiz um curso de historia da religião há algum tempo e todo momento cruzávamos trechos dos distintos livros de cada religião (bíblia cristã, vedas hindu, al corão islâmico, etc) e encontrávamos, se não trechos idênticos, idéias complementares. Entre os livros de auto-ajuda, filosofia e outros pensamentos, também encontro a mesma idéia repetida de formas diferentes. Isso me deu um alivio danado. Afinal, não estava errado em me instruir e tirar algumas conclusões, por mais que elas já tivesse sido ditas por outro alguém. Cada vez que tomo um pensamento alheio como meu, o incluo em meu repertório e o devolvo com uma virgula a mais, estou contribuindo para a evolução do pensamento humano sobre si mesmo. Digo isso com alivio, certo de que alguém antes e depois de mim dirá o mesmo.

Só por hoje não

Dias destes, me deparei com a sigla PHN. Curioso, fui descobrir que é um movimento católico para jovens “Por Hoje Não vou Pecar”. Minha pesquisa foi superficial e não vou entrar no mérito da questão se isso é bom ou ruim. Mesmo porque esbarrei com outro só por hoje nesta pesquisa, o do AA, “Só por hoje não irei beber”. E isso me fez refletir sobre as “leis” divinas e humanas, principalmente as que dizem respeito as condutas, e de que maneira elas são aplicadas, praticadas e respeitadas ou não. A lei de Deus e dos homens esta cheia de “nãos”. “Não matarás”, Não furtarás”, “Não pise na grama”, “Não beber”, “Não pecar”, etc. O comando pela proibição é comum aos ditadores e aos falsos lideres. Ao criar a proibição, cria-se um estado de medo e junto um estado de insatisfação. Já disse aqui que, se estou insatisfeito com algo, não estou mais sendo honesto em relação a isso. Das leis divinas uma das que se utilizam do positivo para comandar é o “crescei e multiplicai-vos”. Essa, no meu entender, a única das leis que é indiscriminadamente cumprida, sem senãos e burlas. Comandar com leis “positivas” é a certeza do seu cumprimento. Não há relação de tensão e sim de estimulo. Quando se comanda pelo negativo, se esta praticamente pedindo pela transgressão. Podemos retornar aos primórdios de Adão e Eva. Tudo no paraíso era possível, MENOS comer do fruto proibido. O tal fruto era do conhecimento, mas antes mesmo do homem se reconhecer como tal ele já conhecia um lado seu capaz de agir e reagir. Ao comer o fruto o homem estaria participando da criação com o criador. Transgredindo e transformando. Ao admitir ao homem que ele é capaz de fazer algo que não pode, Deus chama o homem para criar junto com ele. E qual é o nome deste componente do homem que o chama a transgredir sem ter o poder do “conhecimento”? A alma! É a alma que insatisfeita faz as modificações acontecerem. É a alma o componente que dá a consciência ao homem de que é possível evoluir. Se não doer na alma, não nos impelimos a agir. Essa introdução serve para entender o brilhantismo de programas de modo de vida, como o “Por Hoje Não vou Pecar” e o “Só por Hoje Não vou Beber”. Seria demasiado simples compor estas afirmações de conduta com expressões do tipo “Por hoje Farei a Lei de Deus”, ou “Só por Hoje ficarei Sóbrio”. Mas este tipo de comando “positivo” traria uma zona de conforto muito perigosa á conduta. Ao se sentir insatisfeita a alma transgrediria justamente no contrario, pecando e bebendo. Ao criar a proibição, chama-se a transgredi-la. Dá-se a opção de um direto oposto, o “sim pecar” e o “sim beber”. E é nessa perspectiva de que, “eu posso, mas não quero” é que a alma se fortalece. É a tensão do correto em detrimento do bom, que faz a alma se sentir viva e ativa. O desafio mora justamente ai, mudar sem transgredir, um salto na evolução. A simples possibilidade da transgressão faz com que a alma busque a evolução acima do proibido.